terça-feira, 5 de agosto de 2014

Estrada



Essas lágrimas cortam-me como navalhas
Queria ter linhas mágicas para costurar essas feridas
Ou minha saliva ser igual sal marinho que cura

Como é que se alcança a alma?
Como meu beijo pode chegar a um coração?

As respostas que demoram mais de uma vida para existir
Então é como se nunca existissem
Mas meu avô me disse em sonho que tudo há uma razão
Talvez por isso que estamos na mesma encruzilhada
Cada qual com a sua cruz

Também ouvi falar do Tempo
Que traz, que leva, que sangra, que ama, que cura

Já não sei o que é verdade
Joguei álcool nas minhas feridas
Posso jogar nas suas?
Não para curar, mas para desinfetar
Porque o que não podem existir são as inflamações

quinta-feira, 31 de julho de 2014

Produtos Perecíveis

Foto: Bruno Nepomuceno


Corpo é matéria. Que um dia vai sem sobras. O que fica são lembranças. 
Guardamos sorrisos, olhares, momentos. É só isso. Que já é tudo. Corpo pode virar cinzas que todo o resto estará aqui no coração. 

Deixa girar, deixa a roda girar. Espaços não se sobrepõem. Dois corpos não ocupam o mesmo lugar no espaço, já dizia a lei da física. Chora, meu bem, que faz bem. Nós perecemos todos os dias um pouquinho. Mas não enxergue o tempo sempre nublado. O sol vem todos os dias e é só o corpo que é matéria. 

Era mais importante para o indivíduo. Para nós, alheios a este corpo que vira cinza, importa apenas o que está no nosso lado de dentro. Sentimentos. O resto, é produto perecível.

quarta-feira, 25 de junho de 2014

Efêmero

Foto: Dani Peraze


Tudo na vida pode ser efêmero, menos o amor.
Veja o Arthur's Seat, meu bem. É exatamente lindo, pois houve tempo de ser assim, de florescer. Agora que é primavera, ele se enche de cores.

E nós, o que florescemos se não nos permitimos tempo?
Não é uma questão de apontar os fatos, mas sim de saber o que seremos.

Aqui o ar não me falta, as lágrimas me acompanham. Aí já não sei respirar com você tão perto, da maneira mais distante que já foi.

Não sabemos porque erramos e deixamos ser efêmero a única coisa que é eterna.

sexta-feira, 20 de junho de 2014

Mergulho


foi um mergulho na alma
lá no interior
desceu fundo para encontrar a resposta
só trouxe perguntas
foi num estalo
desses que deixa a zunir o ouvido
que encontrou o que não sabe
o que ninguém viu

terça-feira, 6 de maio de 2014

Pedro, obrigada.

Eu conheci Pedro através de uma foto colorida. Estava seu filho, naquela época era o único da prole, sua esposa, uma amiga e mais uma criança. Eram várias cores, alguns sorrisos e uma beleza infinita que me vieram pelos ventos do instagram.

Aquilo me invadiu de uma maneira tão única que passei a acompanhar as fotos. Era tanta poesia sem uma única palavra. Era mágico. Acompanhei o dia-a-dia daquela família, a gestação e nascimento de sua primeira filha (a segunda da prole) e depois da segunda filha também (que formou o trio - e acho que ela é a quinta ponta da estrela). Em algum momento também passei a acompanhar os passos de sua esposa que é tão linda quanto ele.

Pedrinho me trouxe de volta um olhar que há muito perdi, que comecei a esquecer desde que deixei de ser bebê. Suas palavras, suas fotos, sempre com um sorriso sincero e a rara delicadeza que poucos conservam no decorrer da vida. Sua arte me diz tanta coisa que ele nem sabe, mas que se conecta perfeitamente com o meu silêncio e com esse meu momento de renascimento, me despertando novamente para as coisas que quero sempre lembrar. E acho que ele está cada vez melhor, vai ver foi porque a família aumentou e o amor se multiplicou. Esse tipo de coisa transborda.

E essa troca é linda e importante na vida. Os ventos não nos trazem nada por acaso.

Hoje estou em uma cidade onde não falam meu idioma, onde não sei se as pessoas percebem o mundo da mesma maneira que eu, onde as referências talvez sejam outras. O clima é frio e, por um instante, quis um conforto, um colo amigo. Então decidi ler alguns de seus textos, ele tem vários, um mais magnífico que o outro. O dia se tornou mágico. E me lembrei de tantas outras coisas que ele já (me) disse, e deixo aqui a que carrego comigo todos os dias:



E a coisa mais sincera que tenho a dizer desde que o conheci: Pedro, obrigada. Muito. Mesmo.

*Pra quem quiser conhecer o Pedrinho, passa lá pra tomar um café. É só clicar aqui.

quarta-feira, 16 de abril de 2014

Por aí



para onde não sei, mas vou.
para o inferno talvez, se é que ele não é aqui.
essas ruas de pedras cansam minhas pernas
as veias já não suportam mais o peso
de bombar o coração
do corpo que cresceu e quer explodir,
esvair, transcender.

vai, vou. 
caminhar sem rumo, sem prumo
sem saber.
não quero mais ter que pensar
no aqui, no amanhã, no além. 

quarta-feira, 26 de março de 2014

Coisas soltas pela madrugada



Era um que de sonho. Um tanto de realidade. Não sabia direito se eu estava ali. Faz muito tempo que não sei.

As cores que iam se tornando pálidas, mas não ganhavam se quer a beleza dos tons pastéis. Com as pendências se findando, mas não o meu delírio. Há um tanto de perguntas sem respostas.

Há muito eu num espaço que já não me cabe mais. Como um doente que sobrevive as custas dos aparelhos.
Eu acordo assustada, como se o corpo se retomasse de um espasmo.

Era sonho, mas nem sei bem se acordei. É realidade, mas ninguém soube me dizer.

domingo, 9 de março de 2014

Todo carnaval tem seu fim

Foto: Dani Peraze


Fabio acordou com ressaca na quarta-feira de cinzas. Dia abafado. Chovia. Após quatro dias de muito confete, serpentina e pancadas de chuva, pegou seu copo com água gelada e abriu o jornal.

Notícia cinza, como aquela tarde. Um garotinho havia sido espancado até a morte, pelo próprio pai, pois gostava de lavar louça, de dança do ventre, e seu pai julgava que ele deveria ter mais “jeito de homem”. Uma criança, de oito anos... Notícia difícil. Fabio enjoou e desistiu do jornal. Achou melhor abrir o Facebook.

Pois bem ali na sua página de notícias a amiga de uma amiga relatava o que lhe ocorreu durante o carnaval. Ela havia levado dois socos na cara de um rapaz, após ter dito que sua amiga era sua namorada, enquanto tentava andar pela rua escapando das amolações deste rapaz e seus amigos. O ar faltou a Fabio. Aqueles socos doeram em seu próprio rosto. Ficou confuso, impotente e pensou: imagina se não chovesse nos dias de carnaval? Quanto mais de tragédias teríamos por aí?

A sociedade está doente e o carnaval acabou.

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Exatidão


Foto: Dani Peraze

Cobrou-me exatidão e foi ter com as estrelas. Quem sabe lá seja Pasárgada... Mas se for uma hora haverá de acordar, ou não?

Teci as linhas e lãs, acabei com os novelos... Tenho tapetes para três casas. Tenho dor no cotovelo. E isso não é sofrimento?

Ah, meu pai, veja lá... Sem lhe duvidar, mas olhe essa conta de novo, pois não é só o desespero que representa dor. E amor não é feito filho que a gente cria para o mundo.

Se é assim mesmo coisa de alma, não se pode haver dois cruzamentos tão perfeitos ao mesmo tempo, ou pode?

Foi novelo por novelo até ter todas as respostas. Veja a exatidão da trama dos meus tapetes.

domingo, 19 de janeiro de 2014

Silêncio das maritacas



Essa vida é sua ou é minha? Quem é que queria ser mágico?

Nem todos os sonhos se transferem de linha, nem todos. Somente aqueles que são puramente seus, sem envolvimento de uma pessoa se quer. Então, por que tem sido um usurpador?

Parei para tomar um café na estação, depois me sentei na rua. Vi no seu bolso a caixa de alfinetes. Pensei: - Não se separa dela ou são só coincidências? Duvido que seja. Alfinetar é quase sempre uma ação pensada, apesar de leviana.

Evito tolices que se podem evitar. Em dias difíceis vou ter com as maritacas. Falo sobre meus pensamentos e depois de algum tempo as coisas estão mais claras. É custoso pensar, mais ainda é não fazê-lo.

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Versos


você leu mil versos nos meus versos
você traduziu outros mil de outra forma
você interpretou das mil maneiras que queria
você só não conseguiu entender uma única vez
o que todos os versos diziam:
- te amo.

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Primeiro dia útil


O jogo começou aperto start / na vida você ganha, você perde, meu filho / faz parte

Lembrei dessa música ao acordar. Veio assim na cabeça como uma brisa que entra pela janela. Não gosto dessa visão de achar que vida é jogo, que é competição. Essas coisas tem início, meio e fim e um monte de fases dependentes ou não umas das outras. Jogo tem regras e trapaças. Eu acho mesmo que a vida é uma linha e que ela acontece da maneira que se julgar mais relevante, sem regras.

Sentei para tomar café. Aquela certa preguiça de quem não gosta muito de acordar cedo para cumprir obrigações. Como de costume abri, respectivamente, o Instagram, o Facebook, o e-mail e o jornal. Passei os olhos por todos eles e fui invadida pelas mesmas coisas dos últimos dias: a necessidade de se fazer aparecer, mais fotos do verão e resoluções para 2014.

Eu que adoro fazer listas, já faz alguns anos que não tenho lista de ano novo. Eu tenho aqui um monte de desejo, isso tenho, mas não organizei dessa forma. E também resolvi adiar o meu verão.
Passei estes últimos dias (os primeiros do ano) refletindo. Fiz o meu balanço mental de 2013. Fiquei feliz por não ter feito um único jogo com a vida. Isso mesmo. Passei os últimos doze meses sem apostar uma ficha, abrir as cartas ou ter um braço de ferro. Apenas usei o que sempre esteve aqui: meus dois olhos, meus dois ouvidos, minha boca e coração. E o resultado? O mais surpreendente de todos: crescimento.

Aprendi a escutar mais, a observar mais, a falar somente o que vale e dar atenção ao coração. E me vangloriei por não precisar de muletas para apoiar meus sonhos, por não precisar gritar para expressar uma falsa (ou não) felicidade e percebi com mais clareza que se entender é a coisa mais maravilhosa do mundo.

Mas o mundo é troca e, exatamente por isso, não posso ficar afastada. Resolvi voltar. Não que eu tenha deixado de lado todo o aprendizado, em 2014 quero continuar a praticar o não jogo. Hoje é o primeiro dia útil do ano. E pra ser útil quero deixar uma mensagem pra você. Se gostar de jogo, pode até encarar assim, mas espero que até o fim do ano entenda o verdadeiro significado. Minha pergunta é:

- Por que temos dois olhos, dois ouvidos, uma boca e um coração?

Não corra pra responder. A vida nem sempre é pressa. Vou ali preparar algo pra comer, tomar banho e sair. Sim, porque o ano já começou.

Feliz ano novo.

*música citada: Loadeando, Marcelo D2.